O que
restou foi aquilo que simplesmente não quiseste. O que restou foi a parte de
mim por ti negada e devolvida. Restou-me desse amor. Eu, outra vez inteira, incrivelmente completa. Lanço mão do mito de que apenas estamos completos
quando encontramos um amor, lanço mão da convenção de que somente serei repleta
contigo. Isso não responde minhas inquietações quanto ao amor. Amar é ser
menos, menor.
Não existe
amor sem renúncia. E assim a verdade do amor se entrega à sua própria dureza,
sua abnegação. O que ficou desse amor é a crueldade de lidar comigo mesma e com
o engasgo de saber que um dia deixei de ser, fui despedaçada, me fiz inacabada
por uma vontade atroz de te amar. O que ficou desse amor? Eu. Um corpo marcado
de cicatrizes das partes que de mim saíram e para mim voltaram. Partes rotas
marcadas numa pele brutalmente retalhada, acabada numa tessitura cruel de
desamores, mas nada recompensa a beleza de tê-las de volta.
[Carol Carolina]
Carta escrita para o processo de criação de 'Histórias Curtas Sobre Amores Inacabados'
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