segunda-feira, 22 de julho de 2013

O que fica depois do amor?

O que restou foi aquilo que simplesmente não quiseste. O que restou foi a parte de mim por ti negada e devolvida. Restou-me desse amor. Eu, outra vez inteira, incrivelmente completa. Lanço mão do mito de que apenas estamos completos quando encontramos um amor, lanço mão da convenção de que somente serei repleta contigo. Isso não responde minhas inquietações quanto ao amor. Amar é ser menos, menor.


Não existe amor sem renúncia. E assim a verdade do amor se entrega à sua própria dureza, sua abnegação. O que ficou desse amor é a crueldade de lidar comigo mesma e com o engasgo de saber que um dia deixei de ser, fui despedaçada, me fiz inacabada por uma vontade atroz de te amar. O que ficou desse amor? Eu. Um corpo marcado de cicatrizes das partes que de mim saíram e para mim voltaram. Partes rotas marcadas numa pele brutalmente retalhada, acabada numa tessitura cruel de desamores, mas nada recompensa a beleza de tê-las de volta.  

[Carol Carolina]

Carta escrita para o processo de criação de 'Histórias Curtas Sobre Amores Inacabados'

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