quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tudo acontece

Tirar o valor da efemeridade de tudo o que existe, real ou aparente, é se tornar impermeável aos afetos, à cumplicidade dos acontecimentos, à vida. Desacreditar do curso natural das coisas é, simplesmente, sustentar a solidão e não propor um pacto honrado de intimidade com ela.

Ser transitório é ser humano, compreender o efeito temporário da nossa existência é preencher o próprio vazio com ternura e bravura. O que mais me atrai nessa passagem é o convívio, notável arte da disponibilidade, estar disponível a tudo o que nos cerca; à decrepitude do concreto, à magia das árvores, ao afago do vento, ao poder do tempo, àquele do outro lado da rua, à distância, ao desconhecido, ao encontro.

Tudo acontece aqui dentro, e isso não passa de uma via incontrolável de desabafo. Nos claustros da minha travessia eu busco um despertar consciente e um lugar para dançar, afinal ninguém pode ser tão denso e carregado assim, apesar de me escavar intimamente, e profundamente, a minha investigação também celebra a pausa, entoa o efêmero, reluz a superfície, cuida do simples. Profundidade, muitas vezes, é disfarce para caretice. 

[Carol Carolina] 

Um comentário:

  1. fui londres longe e vi-vi a efemeridade profunda do dia a dia. Da luz dos espaços, do cheiro do clima, do tempo no ar.

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