quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Meu álibi

A mulher que mais admiro gostava de comer arroz com jiló e ler, em voz alta e branda, sobre Deus e o amor. É a mais sábia alma.

Quem mais me ama nessa vida, quando criança, colocava papelão na sola do único sapato furado que tinha para ir ao colégio. Hoje -  e sempre - vive exclusivamente para os filhos.

A pessoa que cuida de mim foi um dia caminhoneiro simples, educado conforme as convenções sociais que, magicamente, aceitou as condições modernas e as manobras radicais dessa vida.

O único ser, até hoje, que a mim foi leal e fiel tem quatro patas, pelo branco e língua rosa.

O rapaz mais inteligente e genial que conheço diz não saber nada; e tem contato imediato e direto com a espiritualidade maior.

A menina mais criativa que já vi nem reparou que deixou o portal sideral aberto e, desse modo, transita pelas dimensões da arte.

A garota mais sensível e centrada que existe sabe dosar seus sentimentos e ponderar sua razão com excelência e uma pitada de acidez.

Daqui de longe, do meu estado desassistido irrespirável, eu elejo meus mentores. Aí estão. Esse é meu álibi; postulado com valores que nunca deixaram de existir em mim e que emergiram apenas quando reconheci meu vazio, quando me destitui de mim mesma e encarei que sou nada, ninguém; nem bonita, nem segura, nem inteligente, nem exemplo, sem posses, nem forma, apenas um sopro celestial subsistindo nessa constelação inteira de nadas e 'ninguéns'.

Estou inacabada, em desconstrução, procurando me livrar das "escamas educativas da carne". Sou hálito divino sublimando à espera do Euforia; astro que irá sacramentar nosso planeta.

Terra de soberba, de lirismo incrédulo, de Ode à hospitalidade do cômodo. Atravessai, pois aqui sigo no trilho mais trabalhoso e delicado: O Novo. O inédito. Quero atuar no palco da minha existência como coadjuvante, e assim, anonimamente, diante da obra incompleta que interpreto, ante a tragédia dizer para mim mesma que vai ficar tudo bem.

[Carol Carolina]

6 comentários:

  1. Colocar-se à disposição do inteiro, da unidade. Lembro do professor Hermógenes, lembro de você. Isso é prece e poesia. Grata Carolina, vou pra cama sobre esse dois.

    ps: Você tá de lascar!

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  2. Que coisa mais linda Caru... tão bom saber que você existe pra mim, me dá uma felicidade tão boa...
    P.s. nao sei se vc já sabe mas eu sou sua empresária e assessora. Já to aguardando o manuscrito do seu livro nos proximos 6 meses ok. Nada de atrasos heim, o meu amigo editor já fez compromisso comigo, entao maos a obra! 2012 tem publicacao Carol Carolina.
    Nao me empata o processo heim! bjos!

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  3. Nossa neguinha!! Só agora vi este texto!!! Que lindo!!! Só achei uma injustiça vc colocar a Maluca à frente do Chico!!!!!
    E avisa a Livra que eu já ocupo este cargo de empresária primeiro! hahahahaha!!! Gigi

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  4. Coisa linda Carol... isto tudo é saudade de Deus... todos nós, em maior ou menor grau, sente falta de Deus... o deixamos há muito tempo... tentamos voltar... buscamos em vários lugares anos a fio, e daí, vem os choros, os apertos no coração, os nós na garganta, as vontades de chorar, os anseios e angústias dos poetas, ficamos perdidos nos arquétipos terrestres... oh... somos muito, muito mais. Antes do átomo éramos muito mais, quase tudo, pois somos filhos do Todo. Estamos aqui agora, rumo à superconsciência, além da subconsciência e do consciente. É a dita 'catarse' da psicologia, é o nosso vazio finito querendo se preencher do Infinito. Sinto falta de nossa família... aquela que almoçava junto com a bisa, como dizia o Saulo. Nesse corre corre, afazeres, deveres diversos, aprendizados, relembranças requentadas... nos espalhamos por aí... é hora, de pelo menos por pensamento, nos juntarmos! Abraços na alma.
    Fernando (teu primo)

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